O Banco Central do Brasil (BCB) iniciou o processo de redução dos juros em meados de 2019. Nesse sentido, era claro que tal medida implicava na tomada de risco pela autoridade monetária tentando estimular o mercado doméstico.
Ao reduzir o diferencial de juros entre o Brasil e os países de moeda estável, foi reduzido o incentivo do investidor estrangeiro para permanecer no Brasil. Qualquer choque ou aumento de incerteza levaria à saída de capital estrangeiro do país, gerando volatilidade e desvalorização do real (risco cambial).
A depender do tamanho e da persistência do choque, esta desvalorização poderia levar a um aumento de custos das empresas domésticas. Isso devido à elevação dos preços dos bens comercializáveis. Se as empresas conseguissem repassar estes aumentos de custos para os preços, haveria uma aceleração da inflação (risco de inflação).
Durante o segundo semestre de 2019, os riscos da política monetária ficaram claros. Mesmo com a aprovação da reforma da previdência, reduzindo o risco de solvência do governo federal, o dólar saiu de um valor próximo a R$ 3,75 para algo em torno de R$ 4,00 no início de 2020. Mas a inflação ainda estava em torno de 3%.
Resultado da redução dos juros sobre o real
A aposta do BCB em manter a política de redução dos juros, após a pandemia e o fechamento das cidades no início de 2020, significava dobrar a aposta do BCB. Ou seja, tomar ainda mais risco reduzindo o diferencial de juros entre Brasil e países de moeda estável num momento de elevada incerteza e volatilidade dos preços dos ativos nos mercados internacionais.
Como resultado da persistente desvalorização do real devido a queda dos juros, a inflação está acelerando nos últimos meses de 2020. O IPCA acumulado nos últimos 12 meses quase dobrou entre julho e novembro, passando de 2,3% para 4,3%. Já a inflação medida pelo IGP-M sobe de 9,3% para 24,5%.
Assim, o risco cambial tomado pelo BCB levou ao aumento da inflação em 2020. Mas a distribuição dos custos e benefícios da inflação entre os agentes econômicos não é igualitária.
Apenas o mercado financeiro e as grandes empresas tiveram o benefício da redução dos juros e apenas aquelas que produzem bens comercializáveis ganharam com o aumento dos preços.
Entretanto, o aumento da inflação resulta na elevação dos preços dos alimentos, dos transportes e dos alugueis, prejudicando todas as famílias. Em particular, afetando mais fortemente aquelas de baixa renda que gastam a maior parte de sua renda com estes itens.

Arilton Teixeira – Economista-chefe da Apex Partners.